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INTERNATIONAL SHOW CAVES ASSOCIATION (ISCA) RECOMENDAÇÕES PARA GRUTAS TURÍSTICAS EM RELAÇÃO À PANDEMIA DO SARS-CoV-2 (COVID-19)

Versão final (23/04/2020)

  1. 1. INTRODUÇÃO

A ISCA, em representação de todas as grutas turísticas do mundo decidiu estabelecer uma série de recomendações para ajudar a combater a crise, tanto na saúde como económica, causada pela pandemia relacionada com a propagação do vírus SARS-CoV-2. Este conjunto de recomendações foi preparado por uma equipa de cientistas e técnicos espanhóis sob a direção do presidente do Comité Técnico e Científico da ISCA, o Dr. Juan José Durán Valsero, pesquisador do Instituto Geológico e Mineiro de Espanha (IGME). Subsequentemente, foi revisto e completo por Manuel Durán, Presidente da Associação Espanhola de Grutas Turísticas (ACTE), Brad Wuest, Presidente da Associação Internacional de Grutas Turísticas (ISCA), e George Veni, Presidente da União Internacional de Espeleologia (UIS).

Em 31 de Dezembro de 2019, a China informou a Organização Mundial de Saúde (OMS) da aparição de um novo tipo de coronavírus, o SARS-CoV-2 que causa a doença COVID-19, que causa graves problemas respiratórios, resultando numa percentagem relativamente alta, especialmente na população mais idosa e em grupos de risco. A sua origem está atribuída a um mercado animal na cidade de Wuhan, China, onde pelo 10 de Dezembro houve a transmissão o do vírus de um animal para um ser humano (pangolim ou morcego, ainda não é bem claro) e assim começou uma cadeia de infeções que colmatou numa pandemia global.

À medida que Wuhan retoma a normalidade, a 02 de Abril de 2020, atinge-se o número de 1 milhão de infetados a nível mundial, enquanto o número de mortes ascende a 50,000. Praticamente todos os países do mundo entraram gradualmente em quarentena, estabelecendo restrições em atividades humanas, um dos resultados foi que todas as grutas turísticas estão fechadas ao público um pouco por todo o planeta.

O subsolo é provavelmente um dos ambientes mais conservadores que existem. As grutas são ambientes sem luz, com poucos nutrientes orgânicos, uma temperatura média anual praticamente constante e uma alta taxa de humidade. Estudos em vírus e comunidade microbiais em grutas ainda não estão muito desenvolvidos, e muitos dos fatores que controlam a sua conservação e ativação permanecem desconhecidos. Um dos organismos mais estudados são as bactérias, uma vez que no subsolo se encontra uma vasta diversidade bacteriana. A estabilidade das comunidades microbianas nestes habitats faz deles um armazém natural para micro-organismos, onde alguns deles podem ser patogénicos.

Os vírus em ambientes subterrâneos compõem a parte menos estudada do grupo de micro-organismos sensu lato presente nas grutas. A maioria dos vírus estudados está relacionada com animais que vivem nas grutas, como os morcegos e alguns tipos de roedores. Vários casos graves de transmissão a humanos a partir de morcegos estão documentados em alguns países africanos. O vírus da Ébola, o mais mortífero conhecido até agora, também foi detetado em morcegos e macacos africanos. Apesar do facto dos quirópteros cavernícolas terem uma tendência como grupo para terem diferentes tipos de vírus, o potencial específico de cada tipo de morcego é semelhante ao de outras espécies animais pertencendo a outros grupos animais. Em cada caso, os dados disponíveis indicam que os morcegos podem ser um reservatório natural e fonte para vários tipos de vírus, com um potencial de contágio para os humanos. A OMS já fez vários avisos sobre este risco em países Africanos.

O primeiro vírus SARS (Síndrome respiratória aguda grave) veio de uma gruta na china, na província de Yunnan. Os virólogos identificaram a população de morcegos ferradura que tinha estirpes do vírus com todos os componentes genéticos idênticos ao que foi transmitido aos humanos em 2002, matando quase 800 pessoas. Em finais de 2002, casos de uma doença semelhante à pneumonia começaram a ocorrer na província de Guangdong, no sudoeste da China. A doença desencadeou uma emergência mundial à medida que se espalhava por todo o Mundo em 2003, infetando milhares de pessoas. Os cientistas identificaram a estirpe de coronavírus e acharam um vírus geneticamente semelhante ao que se encontrava em produtos específicos dos mercados animais de Guangdong. Trabalhos posteriores sugerem que a estirpe provavelmente teve origem em morcegos antes de ser transmitida aos humanos. Já em 2017 um estudo revelou a possibilidade de aparecer outra doença semelhante, com um risco de contágio para pessoas.

O atual SARS-CoV-2, origem da doença chamada COVID-19, apesar de ainda se encontrar na fase de estudo, parece ter uma origem semelhante ao SARS, apenas com um nível de transmissão entre pessoas mais elevado.

 

  1. 2. ALGUMAS RECOMENDAÇÕES PARA AS GRUTAS TURÍSTICAS

As recomendações descritas abaixo, podem ser úteis para as grutas turísticas. Todas elas devem ser consideradas indicativas e de aplicação voluntária, baseada na aplicação de princípios preventivos. A maioria é de natureza geral e devem ser adaptados às circunstâncias locais de cada gruta. Além disso, devem ser consideradas como recomendações mutáveis, que podem e devem ser modificadas dependendo da evolução da pandemia e sempre sob a alçada da aplicação das regras e recomendações das autoridades de cada país ou administração competente. Os avanços nos conhecimentos científicos e sucessivas recomendações da ISCA e da UIS podem modificar estas recomendações ao longo do tempo.

Foram separados em dois tipos de recomendações, dependendo do período de aplicação:

  1. Aquelas que podem ser desenvolvidas atualmente, aproveitando a vantagem das grutas turísticas estarem encerradas ao público.
  1. Aquelas que devem ser implementadas quando a reabertura ao público for autorizada novamente, até ao regresso de uma situação normal similar à que existia antes do inicio da pandemia.

Estas recomendações não são obrigatórias, não são regras, leis ou regulamentações. Devem ser interpretadas como sugestões, opções e melhores práticas para cada gruta turística ter como base tendo em conta as suas circunstâncias.

2.1. Ações antes da abertura

 

Aproveitando a vantagem do período atual de clausura, as seguintes ações são recomendadas, podem ser praticadas na sua totalidade ou parcialmente, dependendo das necessidades:

  • Análise e verificação dos mecanismos de controlo ambiental da gruta (Humidade Relativa, Temperatura, CO2 e Radão)
    • A necessidade de implementar, aumentar ou manter controlos existentes será analisada, aproveitando para corrigir a sua calibração e manutenção.
  • Análise das necessidades e aquisição de materiais relacionadas com desinfeção, limpeza, segurança e higiene
    • Garantir a disponibilidade de coberturas, máscaras, luvas e botas descartáveis para pessoal técnico de limpezas e visitantes. Hipoclorito de sódio ou lixivia, desinfetante em gel com um grau de álcool superior a 70% e outros produtos. Também é importante considerar a aquisição de termómetros digitais à distância, para medir a temperatura dos funcionários e visitantes.
  • Ações de limpeza e desinfeção dentro da gruta
    • Estabelecer um protocolo específico para limpeza e desinfeção de cada gruta, que deverá incluir todos os elementos a ser limpos (passadeiras, escadas, vidros, corrimões, interruptores, etc. com enfase nas superfícies passíveis de serem tocadas); o protocolo de limpeza a ser cumprido restritamente pelo pessoal técnico de limpeza e a frequência da limpeza de cada item, deverá ser diária.
    • Todos os protocolos de limpeza e desinfeção devem ser realizados de forma a não causar danos ao ambiente da gruta.
    • Uma limpeza intensiva e integral bem como desinfeção da gruta deverá ser realizada com uma solução adequada de hipoclorito de sódio e água (cuidado com o uso excessivo ou continuado deste desinfetante, que pode causar danos à biodiversidade natural da gruta, corrosão de certos elementos, branqueamento da roupa de visitantes ou aparição generalizada de odores desagradáveis aos visitantes) nos elementos artificiais existentes dentro da gruta, com especial enfase nas passadeiras e escadas com equipamento de baixa pressão, tomando cuidado nos cantos, bem como todas as restantes superfícies antrópicas: corrimões, passadeiras, painéis, plataformas, escadas, púlpitos, rampas, portas, extintores de incêndio ou qualquer outro elemento particular da gruta passível de ser contaminado. Todos os materiais de limpeza e fluídos devem ser removidos da gruta após a desinfeção.
    • Como alternativa e recomendado especificamente para grutas com uma elevada biodiversidade, recomenda-se o uso de peróxido de hidrogénio (normalmente 3-4%) como preferível para a infraestrutura da gruta.
  • Ações a serem realizadas no exterior da gruta e edifícios complementares
    • Em todas as estruturas auxiliares externas, como parques de estacionamento, cacifros, cafetaria, restaurantes, lojas de recordações, centros de interpretação ou salas de audiovisuais, deve ser realizada uma limpeza e desinfeção extensiva e minuciosa. Na superfície destes locais alguns dos desinfetantes recomendados pela Associação de Proteção ao Ambiente Americana em: https://www.epa.gov/pesticide-registration/list-n-disinfectants-use-against-sars-cov-2
    • A possibilidade de estabelecer maior distância entre veículos nas áreas dedicadas ao estacionamento pode ser estudada. Por exemplo, saltar um lugar entre veículos.
    • A possibilidade de colocar ecrãs de proteção em todos os locais de trabalho entre os funcionários e os visitantes deve ser estudada.
    • Dispensadores de desinfetante manual devem ser instalados à entrada de cada edifício e instalações exteriores, bem como nas instalações sanitárias.
    • Estações de lavagem de mãos ou desinfetantes manuais devem ser instalados para o pessoal e visitantes para usar antes e após a saída da gruta.
    • Estações de desinfeção manual podem ser instaladas dentro da gruta em várias localizações, sempre que possível. Particularmente após locais onde os visitantes tocam corrimãos ou portas.
    • Desinfetante de mãos deve ser colocado em todas as áreas de restauração.
    • Protetores devem ser colocados para separar os visitantes dos funcionários da cafetaria, restaurantes, lojas de recordações e outros pontos de venda. Quando não for possível, os funcionários devem usar máscara facial e luvas.
    • Desinfetante de mãos deve ser colocado nas lojas de recordações especialmente em locais onde os visitantes podem tocar nos artigos expostos.
    • A possibilidade de instalar, à entrada da gruta, um mecanismo que permita limpar a sola do calçado usando um material impregnado com uma solução desinfetante deve ser considerada.
    • Um plano especial deve ser estabelecido para a coleta e remoção de material descartável para funcionários e visitantes. Por exemplo, pode ser requerido que tanto os funcionários como os visitantes tenham que usar equipamentos de proteção pessoa (EPI) como máscaras faciais e luvas.
  • Ações para limpeza e desinfeção de equipamento de espeleologia para atividades específicas de cada gruta
    • No caso das grutas que oferecem atividades de espeleo-aventura, todo o equipamento necessário, tanto pessoal como coletivo, deve ser minuciosamente limpo: capacetes, cordas, lanternas, escadas, botas bem como todo o restante equipamento espeleológico.
  • Ações para o grupo de funcionários e guias da gruta
    • O treino de pessoal a trabalhar nos espaços da gruta é recomendado para que adquiram os conhecimentos necessários para as ações de segurança e higiene do atual momento pandémico.
    • Em adição, os guias devem receber treino específico em medidas de segurança e higiene para informação e monitorização de visitantes.
  • Ações para gerir visitas
    • Análise da estrutura dos grupos: possibilidade de fazer grupos menores, grupos familiares diferenciados, com maior espaçamento entre grupos, mantendo um distanciamento de 1,5 a 2 metros de segurança entre visitantes.
    • Análise das paragens e sua duração para verificar a necessidade de se realizarem, modificando-as ou adaptando-as ao tempo considerado mais apropriado e nos locais apropriados.
    • Análise de pontos onde poderá haver cruzamento de grupos ajustando os intervalos entre grupos de forma a minorar esta probabilidade.
    • É recomendado que se avalie a possibilidade de colocar sinalética móvel temporária (por exemplo, adesivo refletor ou autocolantes) no pavimento para marcar a distância em zonas problemáticas, como a fila de entrada ou em locais de paragem para explicações.

2.2- Ações durante a abertura e fase de operacionalização

Quando as autoridades competentes autorizarem a abertura das grutas ao público, o seguinte grupo de ações é recomendado:

  • Relacionado com a gruta
    • Todos os dias, após a última visita e antes da abertura da gruta, deve ser realizada uma limpeza e desinfeção minuciosa da gruta seguindo o protocolo de limpeza estabelecido anteriormente, tendo especial atenção a todas as superfícies de contato, superfícies horizontais e todos os materiais metálicos, plásticos ou semelhantes.
    • A desinfeção diária de outros objetos dentro da gruta também é recomendada, como barcos, assentos ou bancadas, quando existentes.
    • Não é recomendada a ventilação do interior da gruta através de ventiladores uma vez que podem causar a dispersão e entrada de vírus e outros elementos não relacionados com o ambiente cavernícola.
  • Relacionado com as infraestruturas de apoio externas
    • Em todas as estruturas externas, como estacionamentos, caixas, restaurantes, lojas de recordações, centros de interpretação ou salas de audiovisuais, a limpeza e desinfeção deverá ser diária.
    • À entrada de cada edifício haverá dispensadores de gel sanitário, mudado diariamente, e pósteres explanatórios com os regulamentos de medição de distanciamento social a serem cumpridas tanto no exterior como no interior da gruta, devidamente assinados.
    • Devido ao método de transmissão mais comum ser através da respiração ou até da fala, recomenda-se a encorajar o uso de máscara facial pelo visitante, ou até considerar a sua obrigatoriedade. Máscaras descartáveis devem ser providenciadas gratuitamente a visitantes que não venham munidos das mesmas.
    • Todos os funcionários das instalações em contacto direto com o público que não possam manter o distanciamento social aceitável devem usar máscara facial e luvas e devem estar atrás de ecrãs protetores sempre que possível de forna a não terem contacto direto com o público.
    • Todos os funcionários que lidem com pagamentos do público (notas, moedas e cartões bancários) devem usar luvas.
    • Em áreas como cafetarias ou restaurantes, a comida será preparada e servida por funcionários a usar máscaras faciais e luvas e seguindo os protocolos apropriados das autoridades sanitárias. Quando possível, géneros alimentares pré-embalados são recomendados, prevenindo que sejam tocados pelos funcionários ou pelo público.
    • Nas lojas de recordações, deve ser solicitado aos visitantes o uso de luvas descartáveis a providenciar pelas empresas. De igual modo, os itens para venda, disponíveis ao público e que não possam ser limpos devem ser protegidos com sacos de plástico transparente.
  • Em relação aos guias e outros funcionários
    • Os guias e outros funcionários não devem trabalhar se estiverem doentes e exibirem quaisquer sintomas. O estado de saúde de todos os guias e outros funcionários deve ser confirmado no início de cada dia. Termómetros de infra-vermelhos podem ser usados e se se detetar uma temperatura igual ou superior a 37,5ºC, não deverá ser autorizado ao funcionário permanecer no local de trabalho devendo ser enviado para casa. Qualquer funcionário que comece a exibir sintomas de estar doente durante o horário laboral deverá ser enviado para casa imediatamente.
    • O equipamento de proteção mínimo requerido para os guias deve incluir o uso de máscara facial e luvas. A conveniência do uso de protetores de calçado e chapéu (ou capacete) deve ser considerado.
    • Os guias devem oferecer instruções claras e precisas ao público, adquiridas em período de treino prévio.
    • Devem explicar o uso obrigatório de equipamento que o visitante deverá usar, as medidas de distanciamento social a serem respeitadas e as regras de comportamento e proibição de tocar além do essencial e em qualquer caso as formações naturais.
    • Deverão informar prontamente quais os tipos de organismos presentes na gruta, especialmente morcegos, sublinhando a sua baixa presença em zonas turísticas, e que a vasta maioria das espécies conhecidas não tem ou transmite qualquer tipo de vírus. Deve ser enfatizado que as superfícies de toque e passagens na gruta são desinfetadas diariamente, para minimizar qualquer risco potencial.
    • O guia evitará efetuar paragens em locais apertados ou inapropriados, limitando-se aos locais estritamente solicitados.
    • O uso de áudio-guias ou equipamentos providenciados ao visitante podem ser uma fonte de infeção, assim a avaliação da sua suspensão temporária é recomendada. Em caso de considerar o seu uso essencial, devem ser limpos e desinfetados após cada utilização. O uso de capas descartáveis deve ser considerado.
  • Em relação aos visitantes
    • Deve ser claramente comunicado que as pessoas doentes ou que exibam sintomas não devem visitar a gruta. Se um visitante, à entrada do recinto ou da gruta, apresentar sintomas ou suspeita de ter febre, pode ser verificada a temperatura por termómetro digital, sem contacto. Se a temperatura detetada atingida for de 37,5ºC ou maior, não deverá ser autorizado o acesso à gruta ou às instalações ao visitante.
    • É recomendado o estudo da possibilidade de se considerar apenas a venda de bilhetes on-line para prevenir o contacto com os funcionários e outros visitantes na bilheteira.
    • É a critério da administração da gruta e também a pedido dos visitantes, a possibilidade de oferecer aos visitantes o uso de máscaras, luvas, chapéus e proteções de calçado descartáveis.
    • Os visitantes devem respeitar as medidas de distanciamento social indicados tanto no interior da gruta como nas restantes instalações.
    • Durante este período, não é recomendada a visita a pessoas com mais de 70 anos ou com historial cardiorrespiratório.

Este document foi escrito pelo Dr. Juan José Durán-Valsero, Dr. Pedro A. Robledo-Ardila e Ms. Raquel Morales-García, com contributos, sugestões e supervisão de Manuel Durán e Rafael Pagés (ACTE), Brad Wuest (ISCA), e George Veni (UIS). É um contributo do Comité Técnico e Científico da ISCA, sob a coordenação do seu presidente, Dr. J.J. Durán.

Tradução: Nuno Jorge, Grutas de Mira de Aire

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